Quando a morte ensina a viver.


Parece estranho falar sobre a morte em um blog onde o tema principal é a vida. No entanto,  por mais antagônico que pareça, os leitores do blog irão concordar comigo que o velho dito popular  “a morte faz parte da vida”, apesar de clichê, é sem duvida verdadeiro.
Meu intuito com esse texto é homenagear um importante líder, e amigo, que eu tive a honra de ter em  minha vida e que acaba de nos deixar. 
Também quero refletir sobre o quanto é importante o legado que deixamos ao passar por esse mundo.
Mesmo assim, ainda creio que o correto seria que a vida pudesse nos trazer mais ensinamentos sobre o amor, amigos e relacionamentos do que o evento da morte. Infelizmente para mim, ultimamente,  tem sido o inverso. Doloridamente o inverso eu diria.
As duas situações mais emblemáticas foram o anuncio de uma amiga no Facebook informando sobre o falecimento de um ex-colega de trabalho, que havia sido tripulante conosco. Ele era um rapaz muito jovem, e super gente boa. Não era um amigo próximo, tanto que nem eu nem lembrava seu nome, mas ao rever sua foto lembrei de um cara que era capaz de fazer a diferença na nossa vida pela simples habilidade de ser educado, amável e boa praça.
E embora essas características devessem ser comuns, infelizmente nem sempre são. Por isso se tornam tão importantes em qualquer ambiente de trabalho. Se você estiver no meio do oceano, longe do seu país de origem e a quase 10 mil quilômetros de casa, ter um cara assim na equipe é tão valioso quanto ouro em pó. 
Não contente com esse triste revés, que já havia me posto a pensar sobre a importância de se dar valor às pessoas do nosso convívio, há três dias, a vida resolveu dar com força na minha cara. Perdi um amigo muito querido e próximo.
Na ultima segunda-feira  recebi um e-mail de uma amiga me informando  sobre o falecimento repentino de nosso ex Gerente Péricles, o Pepê, como o chamávamos as vezes.
Eu não tenho palavras para descrever exatamente o que eu estou sentindo, a não ser a sensação de estranheza quando acontece algo interessante, bizarro e engraçado, normalmente relacionado à politica, ou vida profissional, que eu costumava dividir com ele,  passando horas fazendo piadas de humor negro, e comentários para a lá de sarcásticos. Aliais, sua sagacidade e inteligência eram afiadíssimas e sempre o faziam entender o meu sarcasmo, mesmo quando por milagre eram sutis. E o melhor era que suas replicas sempre eram mais inteligentes, discretas e ainda mais acidas. E isso era absolutamente sensacional. Eu amo pessoas muito inteligentes e o Pericles era acima da media nesse quesito.
Um outro ponto onde ele era "hors concours" era no quesito liderança. Pericles foi meu gerente há uns 10 anos, quando eu era promotora de vendas de cartão de credito. Só quem trabalha ou trabalhou em área de promoção em lojas e mercados sabe o quanto é difícil você alavancar a venda dos seus produtos, e se fazer ser reconhecida pela sua capacidade acima de qualquer atrativo físico.
Naquela época, aos 20 e poucos anos, com corpão e cabelão de modelo, muito bem distribuídos nos meus antigos 64 kilos e 1,71 de altura, eu tinha ainda uma maior dificuldade de provar minha eficiência, dar ideias ou conquistar meu espaço profissional sem que os olhos dos gerentes das lojas parassem na altura dos meus seios. E acreditem, para mim, isso era absurdamente irritante e frustrante ao mesmo tempo.
Mas desde que passei a trabalhar com Péricles, isso mudou. Ele me dava ouvidos por confiar no meu tino comercial, capacidade de articulação, conhecimento e força de vontade. Com ele  SEMPRE FOI DIFERENTE. Ele me deu a possibilidade de brilhar profissionalmente ao me dar espaço para falar com a equipe de vendas nas preleções de início de turno na loja, deixando que eu movimentasse meu produto pelos corredores, colocar anúncios, promoções conforme as ideias me surgiam e isso independe de qualquer ordem. Se eu tinha boa iniciativa era por que eu tinha um líder , e não um mero chefe. Sua segurança em liderar ao invés de chefiar (dar ordens e controlar tudo e todos) eram o que me davam liberdade para ter boa iniciativa e isso SEMPRE refletiu em excelentes resultados nas nossas vendas.  Ele me ensinou a ser uma profissional com habilidades empreendedoras, e isso se reflete positivamente na minha carreira até os dias atuais. Graças  ele eu consegui, pela maioria dos meses em que trabalhei na empresa, ser campeã de vendas de cartões em todo o Estado de São Paulo mesmo trabalhando em uma das menores lojas da rede.
Mais tarde, seis meses depois de eu ter deixado a empresa, e ja estar em outra compania, Péricles me convidou a voltar a trabalhar com ele, gerenciando a venda dos cartoes de credito da loja em que ele era gerente,  pois as vendas  haviam caído muito. Porem, eu decidi por continuar na outra empresa. Só por esse fato, ele poderia ter ficado bravo comigo e ter cortado relacionamento. Mas ao invés disso, ele foi capaz de entender a minha decisão de migrar da área de vendas para a área administrativa, e ainda foi um bom conselheiro profissional ao longo dos últimos 8 anos quando eu não mais trabalhava com ele. 
Conheço pessoas que por muito menos que isso, cortam contato quando um colega deixa a empresa onde ambos trabalham. No entanto, Péricles nunca foi uma pessoa sem personalidade. Muito pelo contrário,  personalidade, profissionalismo, caráter e hombridade lhe eram atributos fartos.
Ainda assim o mercado de trabalho não foi inteligente o suficiente para reconhecer nesse homem.
Essa não é só a minha opinião, não. 
Basta fazer uma visitazinha em sua página do Facebook para encontrarmos comentários idênticos a esses meus, e escritos por pessoas de todas as “raças”, credos religiosos e gêneros. E o mais importante, relatos e agradecimento que foram feitos antes mesmo de sua passagem para o outro plano espiritual. Acredito que isso se dava pelo fato do meu amigo, que se dizia ateu, não fazer qualquer acepção de pessoas independente de qualquer situação.
Quando lembro que ele estava disponível para o mercado de trabalho, me pergunto como as empresas deixam esse tipo VALIOSO de líder sem uma colocação à altura, e isso realmente me revolta muito.
Aliais, a mediocridade do mundo corporativo era um dos temas preferidos das nossas alfinetadas e comentários sarcásticos nas redes sociais. Local que esse se tornara a nossa fonte mais próxima de contato.
Quando eu estive fora do Brasil, trabalhando como Tripulante de navio, Péricles me incentivava dizendo estar orgulhoso da minha atitude de ter deixado tudo para seguir um sonho. 
A cada linha que escrevo sobre esse cara me sinto mais triste por sua partida, porém mais grata por sua participação na minha vida.  O que me faz lembrar uma frase da música “If I die Young” (se eu morrer jovem) , que eu colocarei no final desse post, onde o autor diz "funny how your dead people start listening"  que traduzindo e praticamente o que eu fiz após essas passagens: "engraçado como na sua morte as pessoas começam a ouvir...".
Péricles me faz constatar “in loco” que podemos ser ouvidos após a nossa morte. Infelizmente algumas pessoas esperam que ela ocorra para que a nossa voz seja ouvida de forma mais efetiva.
Ao mesmo tempo, me dou conta do quando isso é triste e injusto, e dessa forma também tenho a oportunidade de mudar minha mente e comportamento com relação às pessoas maravilhosas que Deus tem colocado em minha vida. Isso também me faz levar mais a sério a voz daqueles que amo enquanto eles ainda estão vivos.
Meu único consolo, no caso de Pepê, é ter tido a oportunidade de agradecer pessoalmente, e por escrito, sua importância na minha vida. Na ocasião, tomei um baita “sabão”, rsrsrs (típico do Pepê). Lembro dele me mandar calar a boca dizendo. “Pode parar!!! E para de me chamar de chefe, por que, eu não sou mais seu chefe. Agora eu sou seu amigo. “
 Um outro alivio também é o fato de que, em uma das nossas ultimas conversas, ele me escreveu “te adoro”. 
Puxa vida!!! Como é importante dizer o que sentimos PRINCIPALMENTE DE BOM, para as pessoas importantes ao nosso redor. Pepê era um cara que sabia a importância real disso sem se sentir a “última bolacha do pacote”, mas com a responsabilidade de ser alguém que faz a diferença na vida daqueles que o cercavam. Assim por último Péricles me deu uma lição de como lidar com pessoas realmente importantes.
 Pepê, meu querido, também te amo amigo!
Digo isso no presente por que sua partida dessa vida não anula a importância da sua participação na minha, apenas me proporciona a única coisa que você NUNCA havia me dado, o sentimento de tristeza por sua ausência.


Descanse em paz querido, que Deus tenha misericórdia de sua alma, e das nossas vidas que estão agora mais pobres com a sua partida. VocÊ foi um homem, amigo, chefe e líder absolutamente EXTRAORDINARIO.  Muito obrigada ! #saudadeeterna

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